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A Real Fábrica Veiga
 
Factos e Figuras da História da Covilhã
 
A REAL FÁBRICA VEIGA

 

 

Em 1784, José Mendes Veiga (1762-1817), um negociante de lãs e panos, cristão-novo, natural de Belmonte, fundou, nas imediações da Real Fábrica de Panos, junto à Ribeira da Goldra, uma manufactura de tinturaria e acabamento de tecidos, que veio, posteriormente, a ser conhecida como a “Real Fábrica Veiga”.
 
Em 1803, para além da tinturaria e da casa para tesouras e prensas, já possuía um engenho de cardar e fiar, uma casa de teares e 6 râmolas de sol.
 
Após a morte do fundador, a empresa passou a ser dirigida pela viúva, D. Rosa Jacinta de Carvalho Veiga, e pelos filhos (Rafael, José e Manuel), primeiro sob a designação de “Viúva Veiga & Filhos” (1817-1822) e, seguidamente, sob a de “José Mandes Veiga & Irmão” (1822-1829).
 
Defensores do ideário liberal e partidários de D. Pedro, os filhos de José Mendes Veiga, entre 1829 e 1834, tiveram que exilar-se, tendo então a fábrica ficado a ser dirigida pela mãe, sob a designação de “Viúva Veiga” (1829-1834).
 
No final da guerra civil, de regresso à Covilhã, José Mendes Veiga (filho) (1792-1872), assumiu a direcção da empresa. Logo em 1834, veio a estabelecer, no convento de S. Francisco, na Covilhã, por um curto período de tempo, um novo engenho de cardar e fiar, movido a energia a sangue (bois), que viria a ser pasto das chamas.
 
Na segunda metade do séc. XIX, apresentava-se já como uma empresa vertical, tendo-se convertido num dos mais importantes complexos empresariais da Covilhã e do país. Em 1864, o empresário veio a ser agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.
O estabelecimento beneficiou, ao longo do tempo, de alguns privilégios reais, nomeadamente a isenção de fiscalização pelos Juízes e Vedores dos Panos, bem como a utilização, em regime de exclusividade, de diversos métodos, técnicas e produtos, que lhe garantiram as mais competitivas vantagens de produção.
 
Em 1881, empregava 400 trabalhadores, tinha 2 rodas hidráulicas e uma máquina a vapor e consumia mais de 180.000 Kg de lã.
 
Em finais do séc. XIX, integrava 14 unidades fabris e algumas escolas de fiação e cardação, dispersas por diversas localidades da Beira Interior, localizando-se as mais importantes na Covilhã, em Unhais da Serra, Pêro Mouro e no Fundão. Esta situação contribuiu para ter sido uma das quatro fábricas covilhanenses escolhidas para ser visitadas, em 6 de Setembro de 1891, pelos reis D. Carlos e D. Amélia, aquando da inauguração da linha de caminho de ferra à Covilhã. À data, os monarcas ficaram alojados no palacete do Refúgio, habitado pelo sobrinho e herdeiro de José Mendes Veiga, o Comendador Marcelino José Ventura (1820-1891). Este, após a morte do tio, passara a dirigir o complexo, sob a designação, que se manteve até 1904, de “José Mendes Veiga & Sucrs.”.
 
Nos finais do séc. XIX, a fábrica passou a ser gerida pelo 1º Conde da Covilhã, Cândido Augusto de Albuquerque Calheiros (1840-1904), afilhado de Marcelino José Ventura, que nela iniciara a sua actividade industrial, tendo-a mantido até à sua morte.
 
Seguidamente, foram numerosas as firmas ocupantes deste imóvel, até ao seu desmantelamento, em finais do séc. XX. De entre elas destacam-se “António da Cruz Inácio”, “Ramiro e Fazendeiro, Lda.”, “António Maria das Neves & Irmão”, “João Lopes Bola, Sucrs”, “Fiandeira Têxtil da Covilhã, Lda.” e “Alberto Roseta & Irmãos, Lda.”.
 
Vicissitudes várias afectaram este complexo, de que se destaca, em 1895, o desmoronamento de diversas áreas, na sequência de um forte temporal, que provocou graves inundações na ribeira da Goldra e atingiu várias outras unidades fabris. De igual modo, nas duas primeiras décadas do séc. XX quatro grandes incêndios (em 1904, 1915, 1916 e 1919) atingiram o imóvel. Após as necessárias reconstruções, dois outros incêndios, ocorridos nos anos 60 e 90, conduziram à sua desactivação definitiva.
 
Em 1997, a Universidade da Beira Interior adquiriu o complexo com o objectivo de o transformar na sede do Museu de Lanifícios e nele instalar o Núcleo Museológico da Industrialização e o Centro de Documentação/Arquivo-Histórico dos Lanifícios. Após as cuidadas obras de remodelação, nele encontra-se preservada uma área arqueológica, bem como uma valiosa colecção de máquinas, equipamentos e documentos que constituem os verdadeiros alicerces da história dos lanifícios da Covilhã, da Beira Interior e do próprio país.
 
Elisa Calado Pinheiro in Notícias da Covilhã

 

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